De todos os ritmos que povoaram a cabeça dos adolescentes e que influenciou  o comportamento da juventude norte americana e europeia — epicentros do movimento da contra cultura mundial, o Rockn’roll– a mais subversiva força cultural do século xx, continua influenciando os corações e mentes das gerações do século xxi;mas para entender o gênero selvagem e sensual, deve — se viajar para os anos 40 e 50; ou seja , bem antes de Elvis Presley– o astro responsável pela popularização do ritmo negro.

O rock começou a ser tocado como ritmo catalisador das transformações sociais, que surgiram, quando os descendentes dos escravos do oeste africano, introduziram, nos Estados unidos o ritmo do jazz (um tipo de música que os negros entoavam nos bordéis de Nova Orleans) — , misto de Blues e  Raguetime; e que após o fechamento dos prostíbulos da cidade, migrou para Nova York, em 1917.

Posteriormente as Big Bands e o Bibop(espécie de jazz mais quente) invadiram as telas de Hollywood e se adaptaram a nova realidade social norte americana, e os negros continuaram ditando o ritmo que agitava as noites do pós- depressão.

Alguns anos depois a mistura do Rhythm and blues com Country causaram o nascimento do ritmo, que causou uma verdadeira revolução no comportamento da sociedade americana. O Rockn’roll dominou a indústria fonográfica, vendendo milhões de discos logo nos seus primeiros anos de vida. Chuck Berry, Lillie Richard, e BB King se tornaram artistas importantes da música popular norte americana,das décadas de 50 e 60.

Chuck Berry, o pai do Rock’n Roll

 

O gênero musical “explodiu”, num contexto totalmente adverso aos seus criadores, pois os Estados unidos viviam uma época de segregação racial,que impôs duras penas aos seus principais interlocutores; Lille Richard foi descriminado pelo visual exótico, e por se recusar a fazer o que o showbiz branco racista e puritano esperava dele, Chucky Berry passou alguns anos na cadeia por ter feito sexo com uma adolescente branca; entre outros casos que envolveram artistas negros.

O estilo agressivo da música ,foi uma forma de contestar o movimento preconceituoso,que satanizavam a cultura dos afrodescendentes, pois nos anos 50 as tensões raciais nos Estados unidos estavam próximas de vir à tona, e os negros protestavam contra a segregação de escolas e instalações públicas .

A produtora fonográfica PHILIPS, foi uma das primeiras empresas a perceber o crescimento do interesse do  público branco pelo Rockn’roll,e potencializou seus lucros ,em bilhões de dólares, lançando artistas brancos no mercado; nomes como, Bill Halley, Jerry Lewis e Elvis Presley se popularizaram entre as massas. Estava aberto o processo de apagamento da memória social das almas pretas, através desse embranquecimento; nomes como: Bob Dibbley, Bb King, Muddy Watter , Litlle Richard , Chucky Berry e Rosseta Nubin (A mãe do rock), passaram para segundo plano.

Rosseta Nubin, a mãe do rock

Na década de 60  o Rock foi apontado como música de comunista -esquerdista — tarde de mais, pois o ritmo já ditava regras e modas ,além de já gozar de  popularidade – via festivais. Foi num desses eventos ,que o fenomenal Jimmy Hendrix surpreendeu o público, “tirando” da sua guitarra eletrizante, um som cheio de efeitos, que reproduziam o estrondo de um bombardeio. O acorde dissonante soou  como um protesto contra o governo americano, que sacrificava seus jovens na guerra do Vietnã.Nesse contexto ,a liberdade e a rebeldia das letras expressavam preocupação e ansiedade da juventude “perdida”, com as questões sociais; fato que culminou com a criação de subgêneros do estilo musical, e a indústria do entretenimento se aproveitou desses movimentos para satisfazer todos os gostos e nichos culturais (os negros com poucos recursos financeiros  foram  excluídos).

Jimmy Hendrix, o maior guitarrista de todos os tempos

 

Banda Death, power trio precursor do punk rock

 

A tentativa de esconder a origem negra do rock foram tão agressivas, que a banda Death ( precursora do punk rock, nos anos 70 ), era desconhecida até por jornalistas especializados no assunto, e só ressuscitaram trinta e oito anos depois, nos anos de 2008, após o falecimento do líder da banda.

Poucos brancos tem a humildade de um Dave Ustaine( vocalista do Megadeth), de reconhecer o DNA dos negros na criação do rock “…Eles(os negros)retiraram o profano  do sagrado” , disse certa vez .Astros como o britânico Paul McCartney, admite que  teve “lições” com Lillie Richard,e que  se   apropriou do ” Wooo”, que usou na vida artística; a lenda viva Elton John, John Lennon Mick Jagger, a banda ACDC, e o camaleão do rock David Bowie são unânimes ao afirmarem, que sem a alma negra, seus contemporâneos não estariam fazendo música.

“Living Colour é uma das poucas bandas formadas,basicamente,por negros ,que se destaca no cenário do metal contemporâneo – dominado por brancos. O quarteto é um exemplo de resistência.

Living Colour,quarteto de negros que brilhou na cena rock dos anos 80/90.

 

Atualmente o rock é visto como gênero  branco (a prova disso, é que, na semana passada “bati”  de frente com um jovem ,num grupo de “roqueiros” , no WhatsApp, que negam a origem negra do gênero. Para eles os negros migraram para o rock ), e já senti  na pele, quando adolescente, o preconceito, tanto de negros, como de brancos, por gostar desse gênero musical. Somente anos depois tive discernimento para perceber a pouca identificação das populações negras com o estilo; mas constatei também , que apesar dessa tentativa de apagamento, a história construída nos guetos dos Estados unidos deixou uma legião de fãs no mundo inteiro; e que do alto dos meus um pouco mais de quatro décadas de vida, vejo com orgulho e admiração a universalização do ritmo musical, criado pelos meus antepassados (que sofreram todo tipo de preconceito da sociedade e da classe política).

Por essas e outras sugiro aos jovens e adolescentes do século XXI,que curtem Heavy metal, Glan rock , Progressivo, Hardcore Grunge e outras vertentes  do Rockn’roll, a fazerem um mergulho na história da música norte americana do início do século XX,para entenderem, na sua totalidade, as razões melódicas, harmônicas e poéticas do som que carrega a alma negra.

Depois dessa imersão, posso bater no peito e bradar aos quatro ventos “Sou negro e ouvinte do bom e velho Rockn’roll, desde os meus 11 anos de idade, e sei que sem os negros não haveria o rock”. Então te pergunto: Desde quando o rock não é um gênero para negros? (Esta pergunta ficou entalada na minha garganta, por mais de 30 anos  após ser repreendido por um diretor de uma escola de samba, que me viu fazendo uma escala penta tônica e acordes de uma música do Iron Maiden).

Conclusão, é impossível ouvir “Money”, do Pink Floyd e não escutar, “Make funk “, do James Brown; portanto, nunca julgue o livro pela sua capa…   “I love Rockn’roll”.

Por: Ademir do Espírito Santo

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